14 jul

Entrevista com Eugeni Dodonov, Gerente de Desenvolvimento da Conectiva

Em entrevista ao Cotidiano Linux, Eugeni Dodonov fala um pouco sobre o Mandriva 2011, a Mandriva e sua metodologia, o que podemos esperar da empresa para os próximos anos e ainda da uma breve fala sobre sua saída da empresa (que ainda ocorrerá em agosto).

Cotidiano Linux: Qual sua formação, por que veio para o Brasil e como chegou à Mandriva

Eugeni Dodonov: Eu nasci em Moscou, na Rússia, e vim para Brasil em 1996 com a família, quando meu pai foi convidado para ser professor de física na UFSCar. Eu sou formado em Bacharelado em Ciências da Computação pela UFSCar, tenho mestado em ciências da
computação pela UFSCar também, e doutorado em ciências da computação pelo USP (ICMC).

Eu comecei a mexer com computadores desde que tive 8 anos, e desde que entrei na graduação comecei a ter interesse em Linux e código aberto em geral. Depois de formado, trabalhei por 5 anos com Linux na mstech (empresa de software de Bauru), e também trabalhei por 3 meses na Microsoft (com sistema de arquivos NTFS, em Redmond).

Desde 2006 eu tive contatos com o pessoal de Mandriva, por participarmos em alguns projetos juntos, e em 2008 eu me juntei à equipe.

CL: Qual é o seu cargo exato na Mandriva hoje e quais papeis você desempenha

Eugeni: Desde 2008, eu trabalho como desenvolvedor, trabalhando com empacotamento, desenvolvimento, atualizações de segurança, customizações, etc.

Desde 2010, depois da saída do Wanderlei Cavassin (um dos fundadores da Conectiva), eu fui convidado para assumir o papel de lider da equipe técnica da Conectiva. E desde Novembro de 2010, eu fui o responsável por todos os desenvolvimentos de Mandriva Desktop, e também o gerente de desenvolvimento de Conectiva.

CL: Hoje você usa o Mandriva no seu dia-dia? O que usava antes?

Eugeni: Eu uso Mandriva diariamente. Antes, eu usei bastante Slackware, Gentoo, ArchLinux, OpenBSD (no desktop), FreeBSD e também já instalei para experimentar diversas outras distribuições.

Entre as distribuições existentes hoje, a que mais me chamou a atenção nos últimos anos foi ArchLinux, que é na minha opinião a melhor distribuição que segue a ideia de rolling releases; e também o Scientific Linux, que está tomando o lugar de CentOS nos últimos anos.

CL: Hoje a Mandriva e o Mandriva estão num processo de mudança grande. Gostaria de saber um pouco sobre as versões que a Mandriva vai oferecer a partir de 2011 oficialmente e quais deixam de existir e quais as principais características dessas que permanecem.

Eugeni: Desde 2011, Mandriva irá oferecer oficialmente a versão conhecida como Mandriva Desktop, que é baseada em KDE4 + aplicações desenvolvidas pelo pessoal de ROSA Labs. Ao mesmo tempo, Mandriva cooker será um rolling release, desenvolvido em paralelo com as versões estáveis da distribuição, suportadas por 3 anos.

De 6 em 6 meses, teremos atualizações incrementais, da mesma forma que foi feito com Mandriva 2010.2. Ou seja, as atualizações de segurança, bugfixes, etc, serão disponíveis no repositório de Mandriva 2011, e também teremos novas releases incorporando todas as atualizações periodicamente – 2011.1, 2011.2, e por aí vai.

CL: Quais as principais diferenças no Mandriva 2011 em relação ao 2010? O que explica essas mudanças e quais diferenças para justificarem as mudanças

Eugeni: Tem muitas mudanças, muitas mesmo! Acredito que Mandriva 2011 em relação às distros anteriores foi a maior mudança internamente em toda a história de Mandriva. Entre as principais, eu citaria:

  • – Novo visual, desenvolvido pela equipe de ROSA Labs
  • – Mudanças internas: uso de rpm5, networkmanager, systemd, dracut, …
  • – Novas ferramentas e aplicações: mandriva sync, improver, …
  • – Mudanças radicais dentro do painel de controle de Mandriva, que foi re-escrito por completo seguindo o paradigma MVC, e dividido em vários componentes: backend rodando no nível de sistema e disponível por meio de chamadas DBus; diversas interfaces (o carro-chefe sendo a interface baseada em QT/QML e integrada ao centro de controle de KDE, mas também existe a possibilidade de ter interfaces baseadas em GTK, ncurses, web, etc); e um middleware ou controlador que faz o mapeamento entre a interface do usuário e o backend do sistema
  • – Novo esquema de releases – versões estáveis suportadas por 3 anos + uma distribuição rolling release desenvolvida em paralelo
  • – Nova estrutura de imagens de instalação, que funcionam tanto como versão Live quanto versões instaláveis etc.


CL: Ser a melhor versão Linux com KDE e um KDE totalmente personalizado é um dos objetivos da versão 2011. Quais novidades nós podemos esperar para o KDE no Mandriva, quais apps exclusivas o Mandriva vai ter (exclusivas no sentido de laçadas com ele) e quais as características dessas ferramentas para tornarem esse KDE o melhor.

Eugeni: O desenvolvimento do novo visual de Mandriva 2011 foi feito, em grande parte, pela equipe de ROSA Labs, na Rússia. Eles contam com uma equipe de designers profissionais (entre eles Kirill Monahov, um dos melhores designers que já tive o prazer de trabalhar, e George Sapronov), e uma equipe de desenvolvimento liderada por Denis Koryavov. Além disso, tem diversas equipes responsáveis por novas ferramentas e aplicações, tais como Mandriva Sync (solução de armazenamento em Cloud, similar ao Dropbox, Ubuntu One e Firefox Sync), Improver (ferramentas para testes e validação do sistema), Sphere (ferramenta de helpdesk), etc.

As principais mudanças visuais referem-se à atualização de toda interface gráfica – temos novo visual do gerenciador de login (kdm), da tela de boot e tela de inicialização (grub e plymouth), novos icones desenvolvidos exclusivamente para Mandriva 2011, novo tema visual, novo menu inicial (Simple Welcome), novo painel do KDE, ferramenta para gerenciamento eficiente dos documentos pessoais (TimeFrame, que utiliza os componentes de nepomuk para localizar os documentos e apresentá-los de forma mais simples), Stack Folders (mecanismo para localização e visualização rápida de pastas e documentos), entre outros.

CL: A partir de agora o Mandriva com KDE vai ser mais independente do GTK? Quais ferramentas ganham versão QT?

Eugeni: O foco nesta versão de Mandriva foi de implantar a base para o desenvolvimento de novas ferramentas de gerenciamento do sistema.

Para isso, foi projetado e implementado um novo projeto de Mandriva Control Center, dividido em diversos backends, separando a interface do usuário do backend que é responsável por realizar as tarefas administrativas. Como interface-padrão, ele vêm com visual baseado em QT/QML, e é também integrado no centro de controle de KDE.

Além disso, temos MPM (Mandriva Package Manager), que segue a mesma filosofia de separação de backend e frontend.

Os responsáveis por estes projetos encontram-se na Conectiva, e são Paulo Belloni, João Victor Martins, Wiliam Sousa e Guilherme Moro, portanto podemos dizer que essas ferramentas são brasileiras natas :).

CL: O Centro de Controle Mandriva Linux está sendo reformulado? O que nós podemos esperar de novo e o que foi retirado? Um leitor comentou sobre a existência de um utilitário para disquetes que ainda existe nele, por isso a pergunta sobre o que será mantido e o que vai ser removido.

O centro de controle antigo irá continuar sem muitas mudanças, por motivos de compatibilidade. Mas a ideia é trazer novas ferramentas para a infra-estrutura do novo painel de controle, separando as funcionalidades do sistema da interface do usuário de forma mais adequada.

CL: Existe definição sobre as novas datas do Mandriva 2011? Pra quando nós podemos esperar a nova versão?

Eugeni: O lançamento de Mandriva 2011 Desktop está previsto para dia 29 de Agosto de 2011. Ainda teremos o RC2 no final de Julho.

CL: Falando agora da Mandriva empresa, hoje todos segmentos de software oferecem lojas virtuais de aplicativos. A Mandriva tem ideia de uma loja de aplicativos ou participar de alguma loja multipla (com várias empresas ou uma união de empresas voltadas para open source)

Eugeni: Sim, Mandriva está desenvolvendo uma espécie de “Application Store”, similar ao Apple AppStore, Android Market, Meego, etc. Aguardem por notícias :).

CL: Recentemente você anunciou a sua saída da Mandriva para antes mesmo da data de lançamento do 2011, você pode dizer pra onde você vai, por que está saindo e onde poderemos te encontrar no futuro?

Eugeni: Vou continuar no mundo de open-source, trabalhando tanto com Mandriva/Mageia do lado da comunidade, quanto com outros projetos open-source profissionalmente. No começo de Agosto vou poder contar mais detalhes, mas por enquanto posso adiantar que acredito que o meu novo trabalho com certeza será interessante e desafiador tanto para mim, quanto para todos os usuários de alguma distribuição Linux no mundo!

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Eugeni, nós realmente agradecemos muito a entrevista e a atenção com nossa equipe. Eu, Guilherme, acredito muito nessa nova versão e espero que atinja todos os objetivos propostos. É realmente admirável o trabalho que a Mandriva tem feito nesses anos e em especial nessa versão que eu tenho acompanhado desde os primeiros betas.

Boa sorte em sua nova jornada e os sinceros parabéns pelo seu trabalho. Esperamos continuar nos encontrando no mundo open source, com todo seu conhecimento e disposição.

Até mais!

Luiz Guilherme Silva

Programador, apaixonado por Linux e Software livre. Coordeno uma equipe de desenvolvimento na Host Campinas, empresa de criação de WebSites. Usuário Mandriva Linux desde 2006, já não sei o que é linux sem essa distro.